Joaquim Luís Mendes Gomes - poemas II

© Emil Nolde
poemas de joaquim luís mendes gomes

Não interessa se de ouro se de pena
Não interessa se é de ouro
se é de pena,
a pena com que eu escrevo.

De que pano minha veste
nem o corte de meu fato.

Se redonda, se corrente
e o tamanho da minha letra.

O que importa é só o fundo,
o essencial.
É o bom e é o belo.
porque a forma quemquer a tece...
.
(Tapada de Mafra, 18 de Agosto de 2016)
- Joaquim Luís Mendes Gomes (enviado pelo autor)

§

Abrir caminho
Há laços de ramagens e lianas,
espalhados que entravam o caminho.
Sem catana e muito esforço,
ninguém consegue avançar.
Há camadas de nuvens espessas,
nevoeiro, tão pesadas.
Nossos olhos, por mais potentes,
não conseguem devassar.
Só o sol.
Há na vida horas negras, carregadas de desespero.
Nada presta. Ninguém pode.
Tão geral.
Até parece o fim de tudo.
Um pesadelo.
Mas não é.
Porque o acaso e o abandono
não reinam
nem existem.
Só a fé e muita esperança
conseguem dissipar.
Há sempre um sol e a bonança
para cada noite negra e tempestade.
Ninguém está só!...
.
(Tapada de Mafra, 18 de Agosto de 2016
7h30m - o sol nasce a custo por entre nuvens)
- Joaquim Luís Mendes Gomes (enviado pelo autor)

§

Estação errada
Vinha no comboio certo.
Saí na estação errada.
Um deserto árido.
Sem viv'alma à vista.
Só pó na estrada.

Vou regressar  a donde parti.

O sentido é outro.
Talvez o sul.
Outro horizonte.
As terras virgens.
Constelações diferentes.

Onde o Inverno é Inverno
E o Verão é Verão.
Reina a verdade.
Aqui, mais não...
.
(Tapada de Mafra, 20 de Agosto de 2016)
- Joaquim Luís Mendes Gomes (enviado pelo autor)

§

A Natureza
É cozinheira a Natureza.
Trabalha noite e dia na cozinha.
Que beleza de tempêros ela põe
Em cada prato.
Nos vicia...
Tem segredos. Não revela.
Só quer servir bem.
Igual para todo o mundo.
Nada cobra. 
Enche o prato até esbordar.
Ninguém sai com fome,
É seu timbre.
A praia e serra é o refeitório.
De dia o sol é candelabro.
De noite um painel de estrelas
Com a lua a cirandar.
O vento silva afoito e certo
Ao ritmo das ondas
Que o mar rege
Como um maestro.
E a sala sempre cheia
Nunca fecha.
Tão belas são as sinfonias!...
.
(Tapada de Mafra, 20 de Agosto de 2016 
7h10m - depois de ouvir Maria Betânia)
- Joaquim Luís Mendes Gomes (enviado pelo autor)

§
.
:: Ver outros poemas do autor. AQUI!


****

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Gostou? Deixe seu comentário.